impressões sobre o espetáculo de dança I


E naquele desespero doido, torto e alcoolizado, pela  primeira vez vi seus olhos. Ainda eram doces, porém estavam entorpecidos. Não apenas pelo álcool, não apenas pelo desespero, mas por um labor angustiado. A ânsia de se provar. E de me provar o que sequer ousaria me contar.
Pensei que teria que me esforçar para escrever sobre aqueles olhos futuramente. Mas, tão logo deixei a sala, me foi anunciado que eu jamais os esqueceria. E por mais que em momentos de calmaria eu desejasse tirar aqueles olhos castanhos desesperados da minha mente, eles me torturavam dia após dia. E enquanto suas lágrimas se tornavam minhas eu gritava para que a maldita imagem se esvaísse tão rapidamente quanto caiam as lágrimas.
Ela realmente me matou com seus olhos.
E depois de todo encantamento. Depois de me perder na beleza de sua íris poética. Eu quis matá-la. Eu quis furar seus olhos castanhos. Arrancar suas tripas. Cuspir em seu cadáver. Mas, a cada vez que eu a imaginava morta, eu chorava ainda mais.
Eu gritava, eu xingava, eu urrava de dor.
Por que cada vez mais, Quanto mais ela morria. Mais se tornava claro que, mais do que qualquer outra coisa na vida, eu a amava.

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