provocação

ele disse que ossos, carne e sangue significam vida.
Então sobre o que falarei se o que desejo é a morte?
Não, não seja tolo, não desejo morrer. Desejo a morte.
Desejo o limite entre o estar vivo e o não estar.

Não mais sofro a claridade.
Praguejo a luz do dia.
Embriago-me na praças abertas.

E toda essa poesia gótica já me é natural.
Corre nas veias.

Quando desce a noite, não preciso me vestir de preto.
O santo manto negro já está sobre mim.
Vive sobre mim.
Invisível. Invencível.

Brinco com facas.
E não mais preciso me esconder.
Por isso não te matei.
Por que a morte já me é conhecida.
Já consigo enxerga-la em suas formas mais sutis.

Mas permaneça ao meu lado...
Espere por um dos dias em que o café não estiver quente o suficiente,
Ou um dia em que o esmalte que procuro acabar.
Nesse instante de loucura, meu caro,
você verá seu sangue, de forma nada abstrata, escorrer pelas minhas coxas morenas.