lumus

Já faz quase uma semana que os vi. Ou mais. (?) Não sei. Mas que importa? O que importa é que tudo aquilo que estava cerrado, trancado, enfiado no escuro mais profundo de mim saiu. Não sei se foi o texto. Não sei se foi o clima, se foi a lembrança... Só sei que eu gritava. E lia com tanta força e emoção que era como se a as palavras saíssem de mim! Embora eu nunca houvesse tocado os olhos naquele texto antes. Aquelas palavras nunca me pertenceram. Mas, no entanto, no momento em que meus olhos as tocaram, elas saiam de minha boca com um vigor tão absurdo que me dominavam. Eu não conseguia parar. E brincávamos num jogo pervertido e doentio. Quando dei por mim, dei com o cheiro forte do incenso. O cheiro fechou minha garganta. E na falta da voz eu sussurrava. Na falta das bocas eu gritava. Na falta de sangue eu suava. Fazia frio. Mas eu suava. E o suor escorria tanto que pensei estar fazendo sexo com as palavras. E estava. E naquela orgia entre eu e as frases sussurradas ao acaso eu morri. As dúvidas se foram. Me entrego a Vontade! Me entrego ao Desejo! Me entrego a Sinceridade dos meus sentimentos! E seja o que os deuses quiserem. Seja o que eu escolher. Seja o que eles quiserem fazer de mim.

Terminei de ler. Não havia cheiro no papel. Não havia cheiro na fita vermelha amarrada em meu braço, lembrança daquela noite de lua cheia regada a vinho. Não havia cheiro em mim. Não havia cheiro em lugar algum. Sorri. E morri novamente.