Primeiro ele mandou uma mensagem via facebook, chamando-a para sair às oito. Mas ela estava na aula. Não viu.
Depois ele mandou uma mensagem para o celular dela. Confirmando. Ela estava rindo com os amigos da faculdade, depois da aula. Não viu.
Ela não queria chegar em casa cedo. Queria evitar certas pessoas que a incomodavam. Pessoas que falavam mal dele. Demorou na casa de uma amiga.

20h
- Tenho que ir - ela disse, de sobressalto - Que horas são?
- Oito em ponto.
Ela se levantou e foi.

Em casa, tirou da mochila o celular. 20h20. Enlouqueceu. Tirou a roupa e foi para o banho. Queria chorar.
De raiva.
Mas não chorou.
Olhava ao espelho.
Raiva.

Foi para o quarto. Subitamente, a raiva se transformou numa energia quente. Elétrica. Como ele a fazia sentir quando estava por perto.
Pôs um cd que a ajudava a lembrar dele. Que a ajudava a sentir essa energia.
Pegou a carta que ele lhe deu no segundo encontro. Com uma navalha, fez cortes rápidos que, de tão fortes, cortaram várias partes da carta que estava enrolada, tal qual um diploma. Mas tomou todo cuidado para não perder o papel. Queria-o inteiro. Legível. Porém marcado.
Apagou luz. Acendeu a vela que ele lhe deu no primeiro encontro. "Pode levar se quiser", ele disse. E ela guardou a vela com todo carinho junto as outras boas lembranças. A vela nunca tinha visto fogo novamente até aquele dia. Até aquele dia. Dançou em frente a vela a dança que ele havia a ensinado. E dançou suas próprias danças.
Sentiu-se em brasa. Sentou-se. E masturbou-se como nunca antes.  Gemeu alto.
Depois brincou com a vela. Lembrou-se que ela demorava a apagar. Conseguiu apenas no terceiro sopro. No mesmo momento em a música terminou.
Lembrou-se da descoberta de que o número 3, de que tanto gostava, tinha relação com o sexo. Riu.
E quando tudo acabou, foi escrever.